Crédito da Imagem: freepik
Novas leis de comércio internacional para produtos alimentícios, planos de expansão no cultivo de insumos agrícolas e reservas com mais de 60% do total de alimentos globais trazem preocupação ao mercado brasileiro, que passa a ver novas dificuldades surgirem no comércio com a China.
Há anos a China tem fulgurado no mercado internacional como maior parceira comercial do Brasil, fato que se repetiu ao longo de todo 2021. Durante o ano passado, o Brasil enviou à Pequim USD 87,8 bilhões em produtos, sendo USD 43,9 bilhões (50% do total) em mercadorias da indústria extrativa e USD 28,4 bilhões (cerca de 32%) em produtos da agropecuária. Porém novas variáveis para o comércio com a superpotência econômica têm levantado incertezas entre economistas brasileiros.
2022 nem havia começado no Brasil e uma nova lei, que dificulta a importação de produtos alimentícios, entrava em vigor na China. Desde o dia 01/01, 14 categorias de produtos da indústria alimentícia que chegarem aos portos chineses sem um registro prévio do exportador junto da alfândega serão multados, retidos, ou impedidos de entrar no país. O requisito, que até então era válido apenas para alimentos que traziam risco à saúde, agora vale também para subprodutos de carne, produtos apícolas, ovos e ovoprodutos, gorduras e derivados de petróleo, cereais e batatas, farinhas e malte, bem como aditivos alimentares e alimentos funcionais produzidos a partir deste ano.
Essa medida serviu para acentuar as incertezas do mercado internacional sobre a China, em especial para o Brasil, que recentemente assistiu Pequim anunciar sua intenção de aumentar a produção nacional de soja nos próximos anos. A ideia do governo chinês é chegar a 2025 com um aumento de 40% na produção interna de soja, dependendo assim, menos do mercado externo para suprir suas demandas. As instabilidades causadas pela pandemia, bem como as tensões com os Estados Unidos – seu segundo maior exportador de soja – são os motivos dados pelas autoridades quanto ao porquê desta decisão ter sido tomada. Contudo, essa medida afeta diretamente o mercado brasileiro, que tem na soja 31% do total de suas exportações para a China e, apenas em 2021, fez entrar no Brasil USD 27,2 bilhões.
Enquanto as medidas do governo chinês sobre a indústria alimentícia se tornam cada vez mais pontos de dissensão no mercado mundial, seus estoques de comida aumentam exponencialmente. Segundo projeções do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), até o final do primeiro semestre de 2022 a China deve controlar 69% das reservas de milho de todo o mundo, além de 60% das reservas de arroz e 51% de trigo. O governo alega que a recente crise epidemiológica que se espalhou pelo mundo e a crise climática global – que vem devastando os campos chineses com calor intenso e inundações – são a principal causa para essa decisão e descartou a possibilidade de um “estoque de guerra”, como propunham alguns estudiosos.
Para um país que representa quase 18% da população mundial, a logística alimentícia é um fator de enorme importância na política interna, que traz em seu cerne milhões de pessoas com a memória marcada por um período nem tão longínquo de fome intensa e prolongada. A independência chinesa quanto à indústria alimentícia representa um desequilíbrio no mercado mundial e um motivo de atenção para o Brasil, um país que atualmente é muito dependente da demanda chinesa por seus produtos e insumos da agropecuária.
Por: João Henrique Cavali